Leishmaniose: como combater a doença?

A leishmaniose afeta os cães e os humanos. A enfermidade, apesar de mais comumente associada às áreas endêmicas, não está mais restrita à elas. No Brasil, a leishmaniose é considerada um importante problema de saúde pública com cerca de 3.500 casos humanos notificados anualmente no país, com mortalidade em torno de 7%.

Por ter caráter zoonótico (é transmitida de animais para humanos), a doença é de importância não somente para a medicina veterinária, mas também para a humana, sendo enfrentada através de medidas que busquem a preservação da saúde das pessoas e dos animais.

A leishmaniose não deve ser motivo de pânico para os tutores de cães. O cachorro é parte integrante do ciclo do mosquito, mas, nem por isso, deve levar a ‘culpa’ por ser o transmissor da doença.

Leia a seguir sobre os cuidados e prevenção da leishmaniose visceral canina.

Entenda a leishmaniose

A leishmaniose é uma doença infecciosa e não contagiosa, causada por protozoários do gênero Leishmania, que dependem de dois hospedeiros distintos para completar seu ciclo de evolução: um vertebrado (como o cão, os roedores silvestres e o homem) e um invertebrado, o mosquito-palha, que é o vetor. Os tipos mais comuns de vetores no Brasil são das espécies Lutzomia cruzi, Lutzomyia longipalpis e migonei.

A enfermidade pode ser classificada de duas formas: visceral (que é quando as manifestações clínicas ocorrem nos órgãos internos) ou cutânea (quando ela ataca a pele e as mucosas). A forma visceral é a mais comumente associada aos cachorros, sendo conhecida como leishmaniose visceral canina (LVC).

A transmissão do parasito para seres humanos e animais ocorre por meio da picada de fêmeas de mosquitos infectados pelo protozoário. Se antes o mosquito era mais frequentemente encontrado no campo, hoje a espécie se adaptou aos meios urbanos e encontrou no cachorro outro hospedeiro, além dos roedores silvestres. O inseto pode “carregar” o protozoário após picar um animal que esteja com a doença e, em seguida, picar o homem, completando o ciclo.

A leishmaniose pode ser letal, pois afeta o sistema imunológico. Depois que o vetor pica o animal ou o ser humano, ocorre uma reação imunocelular, em que várias células de defesa são recrutadas para proteger o organismo da infecção causada. As células de defesa, então, tentam conter o protozoário por meio de um processo chamado de fagocitose – em que há o englobamento do microrganismo invasor com o objetivo de inativá-lo. Porém, esses parasitas conseguem se adaptar, sair das células e se disseminam em todo o organismo por outras células de defesa, que também não são capazes de combatê-los.

Sintomas e diagnóstico

Os cães infectados pela LVC podem ser assintomáticos, o que dificulta a identificação da doença. De fato, a maioria dos animais que entram em contato com o parasito apresentam infecção subclínica (leve). No entanto, a infecção subclínica pode evoluir para a doença clínica, devido a fatores como imunossupressão e infecções intercorrentes, que podem alterar a resposta imune.

Os sinais clínicos mais comuns da enfermidade são lesões de pele (como feridas na orelha e cotovelos), sangramento no nariz, emagrecimento, crescimento exagerado das unhas, descamação (caspas) pelo corpo, além de atrofia muscular na região da cabeça.

Para o diagnóstico, pode ser feito o teste sorológico, no qual, por meio de amostra de sangue do animal, verifica-se se existem anticorpos específicos contra a doença. Quando encontrados níveis altos de anticorpos, o diagnóstico é conclusivo. As provas parasitológicas, em que o médico veterinário deve visualizar o parasita, e molecular ou PCR, em que se vê o DNA do parasita, podem também identificar a sua presença no organismo do pet.

Também já é possível identificar se um cachorro é o que chamamos de positivo, se está transmitindo a doença no momento ou se está controlado parasitologicamente. Isso é importante para diferenciar o animal infectado (picado pelo vetor), do animal doente (que tem manifestações clínicas), daquele que está transmitindo a doença (conhecido como reservatório), dos que estão vacinados (é um mito dizer que o cão tem sorologia positiva após a vacinação, porque a vacinação induz apenas a produção de anticorpos anti-A2, que não é detectado nas sorologias convencionais disponíveis para o diagnóstico da enfermidade). Essa separação é importante porque nem todos os indivíduos que foram picados pelo inseto vão ficar doentes e muitos nem vão transmitir a doença.

Ações para tratar a LVC

Eutanasiar os animais não é solução para a erradicação da doença e outras medidas precisam ser adotadas. Isso porque, segundo especialistas do Brasileish (grupo de estudos da leishmaniose visceral canina), o que se observa em áreas endêmicas é que a população de cães é rapidamente reposta mesmo com a eutanásia, ou seja, a família substitui o animal por outro, que também acabará infectado se estiver no mesmo ambiente.

Entre as medidas citadas estão o investimento em controle do vetor, a educação da população sobre a prevenção e o tratamento com uma droga inovadora para uso e tratamento de pacientes aprovada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a miltefosina.

O tratamento deve ser realizado com protocolos que produzam a melhora clínica e a redução da carga parasitária. Além disso, todos os animais em tratamento devem utilizar repelentes, a fim de minimizar o risco de transmissão.

Quando há o comprometimento do tutor em realizar o tratamento de forma responsável, com visitas regulares ao médico veterinário e exames periódicos, o animal tem a chance de uma vida normal, perdendo a capacidade de infectar.

A prevenção ainda é a melhor maneira de combater a LVC. Entre as medidas que podem ser adotadas estão a vacinação, a colocação de colares repelentes nos cães, o uso de inseticidas (sprays) e repelentes.

Brasileish

O Brasileish foi fundado em 17 de junho de 2011, e se constitui como uma organização não governamental, sem fins lucrativos, formada por médicos veterinários dedicados a elaboração de diretrizes para o diagnóstico, tratamento e prevenção da leishmaniose animal no Brasil e outros países da América, tendo como princípio a defesa e o respeito às vidas animal e humana.                            

Saiba mais no site da Brasileish, aqui.